"Aelita", Yakov Protazanov (1924)
"Aelita" é o primeiro filme de ficção científica realizado na União Soviética, realizada por Yakov Protazanov dois anos depois da publicação do livro em que se baseou, com o mesmo título, obra do sobrinho de Leon Tolstoi, Lev. A novela, um cruzamento entre "A Máquina do Tempo" e "O Manifesto Comunista", é uma das obras mais importantes para o desenvolvimento da ficção científica no séc. XX.
O filme conta a história do engenheiro Loss e do revolucionário Gúsev, que, depois de receberem uns supostos sinais de rádio de Marte, viajam para aquele planeta e confrontam-se com uma civilização semi-desenvolvida e debaixo do reinado de Aelita. Como história de aventuras comparável com os clássicos de Julio Verne, a obra de Tolstói/Protazanov consegue mesclar superstição e teoria social, o futuro, a viagem interplanetária e a luta de classes. Ou seja, o filme mescla elementos de ficção científica com elementos revolucionários, intercalando a ficção científica com o relato da vida na nova Rússia revolucionária, onde os trabalhadores são parte activa do poder e da cultura. Também em Marte, como projecção da própria história revolucionária, a luta dos trabalhadores tenta aproveitar para instaurar outra nova ditadura da classe dirigente, numa clara referência a Kerensky e ao seu governo reformista.
De facto, em "Aelita" a sociedade marciana é uma metáfora do capitalismo, governada por um grupo de anciãos, onde a chamada rainha Aelita, não tem real poder para governar. Os trabalhadores vivem fechados em subterrâneos frios, uma vez que a informação, os recursos e o acesso à tecnologia estão fortemente controlados.
A
novela e o filme mostram as contradições que enfrentam a nova
sociedade revolucionária, e deixa uma mensagem de alerta contra o aventureirismo e o
idealismo. A
moral final é que os indivíduos têm de deixar os seus sonhos idealistas num plano secundário e devem-se concentrar na Sociedade
Socialista e democrática. Portanto, um filme engajado com o seu tempo e local de realização.
Apesar deste engajamento, quase
noventa anos depois da sua criação, "Aelita" mantém-se na lista das
principais jóias do cinema de ficção científica.
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