sexta-feira, 29 de março de 2013

"Aelita", Yakov Protazanov  (1924)
 

"Aelita" é o primeiro filme de ficção científica realizado na União Soviética, realizada por Yakov Protazanov dois anos depois da publicação do livro em que se baseou, com o mesmo título, obra do sobrinho de Leon Tolstoi, Lev. A novela, um cruzamento entre "A Máquina do Tempo" e "O Manifesto Comunista", é uma das obras mais importantes para o desenvolvimento da ficção científica no séc. XX.

O filme conta a história do engenheiro Loss e do revolucionário Gúsev, que, depois de receberem uns supostos sinais de rádio de Marte, viajam para aquele planeta e confrontam-se com uma civilização semi-desenvolvida e debaixo do reinado de Aelita. Como história de aventuras comparável com os clássicos de Julio Verne, a obra de Tolstói/Protazanov consegue mesclar superstição e teoria social, o futuro, a viagem interplanetária e a luta de classes. Ou seja, o filme mescla elementos de ficção científica com elementos revolucionários, intercalando a ficção científica com o relato da vida na nova Rússia revolucionária, onde os trabalhadores são parte activa do poder e da cultura. Também em Marte, como projecção da própria história revolucionária, a luta dos trabalhadores tenta aproveitar para instaurar outra nova ditadura da classe dirigente, numa clara referência a Kerensky e ao seu governo reformista.

De facto, em "Aelita" a sociedade marciana é uma metáfora do capitalismo, governada por um grupo de anciãos, onde a chamada rainha Aelita, não tem real poder para governar. Os trabalhadores vivem fechados em subterrâneos frios,  uma vez que a informação, os recursos e o acesso à tecnologia estão fortemente controlados.
 
 
A  novela e o filme mostram as contradições que enfrentam a nova sociedade revolucionária, e deixa uma mensagem de alerta contra o aventureirismo e o idealismo. A moral final é que os indivíduos têm de deixar os seus sonhos idealistas num plano secundário e devem-se concentrar na Sociedade Socialista e democrática. Portanto, um filme engajado com o seu tempo e local de realização.

Apesar deste engajamento, quase noventa anos depois da sua criação, "Aelita" mantém-se na lista das principais jóias do cinema de ficção científica.

Sem comentários:

Enviar um comentário