terça-feira, 5 de outubro de 2010


David Wark Griffith (Parte 1)

Entre 1908 e 1913 D.W.Griffith realizou centenas de curtas metragens.

http://www.imdb.com/name/nm0000428/

Griffith é um dos maiores realizadores de todos os tempos, e um importante precursor do cinema de arte. Nasceu a 22 de Janeiro de 1874 no Kentucky, Estados Unidos. Os primeiros anos da sua vida foram marcados pelos restos do passado, de tradições e ruína física e moral da sua família, causados, entre outras circunstâncias, quando o seu pai, Jacob Wark Griffith, estava no exército dos Estados Unidos durante a guerra com o México e na Guerra Civil (1861) e, quando ferido em batalha, regressou a casa e teve de enfrentar a miséria de cinco anos de guerra sangrenta. Ao longo da sua vida, David W. Griffith teve diversas ocupações, incluindo operador de elevador, livreiro e escritor de poemas, peças curtas, entrevistas e reportagens, publicadas no "Louisville Courier".

Ao longo do tempo as suas aspirações artísticas levaram-o a ter aulas de canto e criar uma companhia de teatro, representando as obras da sua autoria. Algum tempo depois, determinado a seguir o caminho da arte, apesar da desaprovação da mãe, foi admitido como actor da companhia Stock Meffe, interpretando pequenos papéis no teatro de Louisville, usando o pseudónimo de Lawrence Griffith (com essa compnhia viajou por toda a União durante dez anos).

Em 1903 a indústria norte-americana de Cinema era uma indústria florescente. Por essa época, Edwin S. Porter, que iniciou o género "western" com "The Great Train Robbery", era considerado o principal produtor da época. Griffith abordou-o e ofereceu-lhe novos argumentos e, apesar da primeira abordagem ter sido rejeitado, acabou por conseguir emprego como actor no filme seguinte de Porter.

Já em 1908 Griffith chega aos estúdios da Biograph, em Nova Iorque, num momento em que a empresa precisava de um realizador para ocupar o cargo deixado vago por McCutcheon. Esta vaga foi-lhe oferecida por cinquenta dólares por semana, mais uma percentagem do lucro se o seu desempenho fosse satisfatório. Foi neste contexto que Griffith se estreou como realizador, num momento em que a Biograph produzia um ou dois filmes por semana.

Griffith levou então ao cinema argumentos e histórias de Alfred Lord Tennyson, Leo Tolstoi, Guy de Maupassant e Edgar Allan Poe. Nos seus últimos anos na Biograph, a sua maior conquista foi o assimilar as experiências de outras escolas e cineastas e desenvolver a arte da montagem.

Para além de ser um verdadeiro explorador da linguagem cinematográfica, Griffith também descobriu muitas das estrelas da emergente indústria cinematográfica norte-americana: as irmãs Lilian e Dorothy Gish, Mae Marsh, Blanche Sweet, Michael Sinnott, Mack Sennett e muitos mais. Mas a descoberta mais importante foi uma menina de cachos dourados, olhos azuis e rosto de princesa, que se estreou sob seu comando aos 16 anos em "The violin maker of Cremona" (1909), o seu nome era Giadys Mary Smith, e era conhecida artisticamente como Mary Pickford, que viria a ser a queridinha da América.

Em 1911, Griffith assinou o seu terceiro e último contrato com a Biograph, e no mesmo ano, fez o enorme número de 288 filmes, que no seu conjunto não deve exceder duas bobines. Algum tempo depois, formou sua própria produtora, junto com Harry Aitken, chamada Epoch Producing Corporation, que viria a produzir "The Birth of a Nation" em 1915.

Griffith foi um dos construtores de Hollywood, ao migrar a sua companhia em 1910 para Los Angeles, tornando-se assim o centro de gravidade do cinema norte-americano. Os outros produtores, antes de espalhar entre Nova York e Chicago, seguiram seu exemplo.

O primeiro grande filme de Griffith é "The Birth of a Nation", o qual adapta o livro "The Clansman" do reverendo Thomas Dixon, com um forte sotaque heróico do nascimento dos Estados Unidos, mas também das acções da organização racista Ku-Klux-Klan, após a Guerra da Secessão. Como o reverendo Dixon, Griffith era filho de um coronel confederado devastado pela guerra civil, estando profundamente enraizado desde os primórdios de sua infância um forte desdém pelos negros.

Polémica à parte "The Birth of a Nation" representa para muita gente o nascimento da Arte do Cinema. Antes dele nenhum outro havia contado uma história tão longa e complexa. Do ponto de vista técnico é um marco decisivo na evolução da Arte Cinematográfica. A versão final do filme, composta por doze bobines, num total de 1.375 planos, que faziam avançar a narrativa, e graças a uma utilização flexível da montagem, os planos gerais combinam-se originalmente com os planos próximos (médio e close-ups).

O sucesso comercial obtido por "The Birth of a Nation" ficou a dever-se, em grande medida, à controvérsia e ao escândalo atrás referido. Antes da sua estreia o Presidente Wilson exigiu visioná-lo em plena Casa Branca, contudo como se aproximavam eleições e ansioso para ganhar os votos do Sul, não fez nada para impedir a sua exibição. A estreia teve lugar em Los Angeles, sob protecção policial. Os meios de comunicação liberais e intelectuais do país, que criticaram abertamente o filme, que mostrava os negros como seres degenerados ou vilões (o único negro "bom" é escravo e, inevitavelmente, idiota). Mas os incidentes não demoraram a explodir: em Maio de 1915 a polícia de Boston enfrentou nas ruas uma multidão revoltosa durante um dia e uma noite, daí resultando numerosas vítimas. Violentas outras manifestações contra o filme tiveram lugar em Nova Iorque e Chicago.

Foi o primeiro grande escândalo da história do Cinema, mas ao mesmo tempo o primeiro grande "blockbuster". As posições apaixonadas dos jornais teve ainda a virtude de estabelecer a crítica de cinema como uma secção regular na imprensa. A preços correntes estima-se que "The Birth of a Nation" tenha rendido cerca de 50 milhões de USD nas bilheteiras! ("Gone with the Wind" de 1939 ficou-se pelos 41,2 milhões de USD).

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