domingo, 30 de janeiro de 2011


"Das Kabinett des Doktor Caligari" - crítica por PAULO ALCARVA
Realização: Robert Wiene
Argumento: Hans Janowitz e Carl Mayer
Fotografía: Willy Hameister
Interpretações: Werner Krauss (Dr. Caligari), Conrad Veidt (Cesare), Friedrich Feher (Francis), Lil Dagover (Jane), Hans Heinrich von Twardowski (Alan).

O primeiro comentário a fazer sobre "Das Kabinett des Doktor Caligari" é inevitavelmente sobre a sua importância histórica, uma vez que é unanimamente considerado como um dos pontos de partida do Expressionismo Alemão Cinematográfico. De facto, "Das Kabinett des Doktor Caligari" é um expoente maior do "hermetismo-metafórico" que caracteriza o Expressionismo Alemão: hermético, porque filmado em interiores, onde se pode ter um controlo absoluto sobre a acção; metafórico na importância que ganham os cenários de linhas diagonais, geométricas e onde prevalecem as sombras, tudo com a intenção de criar por um lado a profundidade de campo e, por outro lado, transmitir um estado anímico que potencie o que está a ocurrer na história.

As janelas e as portas são geometricamente irregulares, as ruas, os caminhos e os telhados. A maioria destes elementos dispõem-se formando linhas oblíquas que se cruzam, que crispam a acção e que dirigem o nosso olhar. Intimamente relacionada com o cenário encontra-se a iluminação, sem dúvida uma das características fundamentais do Expressionismo. O contraste entre luz e sombra. Dessa forma, é possível sublinhar a intenção dramática da acção, destacando-se o estados anímicos dos personagens, e contribuindo decissivamente para a criação de uma sensaão de intriga, de terror e de medo. A criação de espaços claustrofóbicos.

Os actores são também parte do efeito cénico. Por um lado por acção da maquilhagem,que "pinta" literalmente os actores, com a intenção de reforçar a sua "expressão" e as suas características. Por outro lado, o guarda-roupa extravagante. Veja-se por exemplo Cesare, com o seu guarda-roupa negro e "plano", sublinhando o seu carácter de "morto vivo", de ser sem necessidades, sem consciência. Em contraposição o resto dos personagens têm camisas brancas, capas, etc...

"Das Kabinett des Doktor Caligari" foi filmado num momento chave para a história do Cinema. Encontrávamo-nos na transição entre um modelo de narração e relização arcaica, e uma nova linguagem cinematográfica, mais desenvolvida, cujo principal precursor havia sido D.W.Griffith.

Em "Das Kabinett des Doktor Caligari" encontramos um elemento muito importante do cinema alemão: a figura do monstro. O medo do desconhecido é uma ferramenta que se emprega para agudizar o dramatismo da história. O monstro é representado de forma imaterial, indefinida: por uma sombra projectada na parede ou através de uma câmara subjectiva que representa o ponto de vista da própria besta.

A história destaca-se também por ser uma história dentro de outra história, num vedadeiro exercício metalinguístico. O "turn around" final, sem dúvida curioso e engenhoso, deixa-nos com dúvidas. O narrador inicial afinal é um louco, que nos enganou enquanto espectadores e que é preso na mesma cela do Doutor Caligari, que por sua vez é muito parecido com o director do sanatório. Qual é a verdadeira história?

"Das Kabinett des Doktor Caligari" é sem dúvida um marco na história do Cinema e constitui o ponto de partida da transição que a linguagem cinematográfica experimentaria durante o Expressionismo Alemão
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