terça-feira, 30 de julho de 2013

"Mat" (aka Mother) (1926), Vsevolov Pudovkin
 

Ambientada na revolta campesina de 1905, pré-revolução vermelha, "Mat" conta a história dos trágicos acontecimentos através do sofrimento de uma mãe pelos seus filhos e seu marido. Baseado livremente no livro homónimo de Maximo Gorki, "Mat" é a primeira longa-metragem  de Pudovkin.

Pudovkin é um nome chave na história do Cinema. Junto a Eisenstein e ambos sob a influência do mestre David W. Griffith, definem o valor da montagem como uma das expressões máximas da linguagem cinematográfica. "Mat" é o seu filme mais representativo. Em contraste com o cinema de massas de Eisenstein e o seu quase repúdio do actor, os filmes de Pudovkin centraram-se no exame da tomada de conciência política das suas personagens individualizadas. Em "Mat" foi a mulher proletária que vê nascer nela a chama revolucionária através da actuação política do seu filho.
 

mother_1_
 
A importância da montagem é comum a Pudovkin e Eisenstein, e reflecte-se ao enfatizar a eloquência da imagem e o sentimento que esta tenta retratar, utilizando de maneira admirável a acção paralela e os contrastes de primeiros planos com imagens de natureza lírica que sublinham metaforicamente as sensações da personagem. Em "Mat" a história é suficientemente sensível, contudo a forma como é narrada, de forma poética e incisiva na acção, eleva-a para um nível hiperemocional.

O filme foi muito bem recebido tanto pela crítica como pelo público, dado que os espectadores puderam identificar-se com as personagens, verdadeiros seres de carne e osso.
 
"The Strong Man", Frank Capra (1926)
 
 
 
Primeira longa-metragem do que seria um dos mais importantes realizadores norte-americanos: Frank Capra. A história começa na Bélgica, durante a Primera Guerra Mundial, com o comediante Harry Langdon como um soldado desprevenido que não possui grande destreza com as armas. Quando é declarado o armisticio, regressa à cidade como empregado do  soldado “inimigo” que o havia feito “prisioneiro” durante os últimos momentos da guerra; o seu patrão é Zandow e promove-se como o homem mais forte do mundo e, com ele começa a montar um espectáculo onde o número forte será "O Homem Canhão".
 

Capra dá os primeiros passos num registo de tarefeiro de Hollywood, fazendo desta comédia menor um exercício de aprendizagem, onde se antecipa o seu magnífico cinema de princípios, de dignidade, de solidariedade e de acções edificantes, e que o converteria num dos  legados mais transcendentes da arte cinematográfica.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

"The Temptress", Fred Niblos (1926)
 

"The Temptress" é o segundo filme que Greta Garbo rodou em Hollywood e o primeiro como actriz principal, depois do debute feito em "The Torrent" (1926). É conhecido que Garbo viajou para Hollywood por ser a protegida do realizador de origem finlandesa e radicado na Suécia, Mauritz Stiller, e que foi contratado por Louis B. Mayer, a quem a actriz parecia gorda e baixa. O que aconteceu então para que Stiller fosse um dos maiores fracassos de Hollywood e Gabo uma das suas maiores estrelas? A resposta está neste "The Tempress".

Stiller começou a filmar "The Tempress", mas a lentidão na filmagem e os elevados custos dos cenários levaram ao seu precoce despedimento e substituição por Fred Niblo, ou não fosse o produtor executivo o "terrível" Irving Thalberg. Deste modo, Stiller acaba por ser responsável por apenas cerca de quatro minutos do início do filme. Provavelmente os melhores de todo o filme, pelo seu exacerbado romantismo ao qual Niblo não pretende (ou não o deixaram) dar seguimento. O despedido Stiller assinou um pedaço de cinema absolutamente fascinante, que se inicia com uma invocação poética a Tagore e pictórica a Watteau. Só por este inicio, descabelado e delirante, merece a pena ver o filme.

the-temptress-1926-greta-garbo

Stiller não voltou a fazer nada parecido em Hollywood. O seu despedimento converteu-o num nome maldito, pelo que voltou à Suécia, deprimido e morreu. E, sobretudo, separou-se de Greta Garbo, a qual havia "criado". Porque se há um aspecto sobre saliente em "The Temptress" é justamente o de marcar de maneira muito gráfica o "antes de" e o "depois de" Stiller na imagem de Greta Garbo. A maravilhosa criatura do baile de máscaras, de um inocente mas irresistível fatalismo, é plenamente "Stilleriana". Em "The Tempress", Garbo já é o ícone que todos conhecemos, a esfinge perfeita, o rosto mais fotogénico inventado pelo olho humano. Nota também para o papel do director de fotografia William H. Daniels, autêntico maestro visual de Greta Garbo: dos 25 filmes norte-americanos que fez a actriz, Daniels trabalhou em 22.

sábado, 20 de julho de 2013

"Der Heilige Berg" (aka The Holy Mountain), Arnold Franck (1926)



O realizador alemão Arnold Franck está hoje praticamente esquecido, relegado para para notas de rodapé sobre o cinema mudos. No entanto, nos anos 20 os seus filmes extremamente documentais, inteiramente rodados em cenários naturais (geralmente montanhas, ou não fosse Franck geólogo de formação), causavam grande sensação junto do público ao contrastarem com as produções de estúdio.
 
Mas "Der Heilige Berg" acabaria de ficar para a história pela presença da sua musa, Leni Riefenstahl, sendo um dos cinco filmes que fizeram em conjunto aquele que mais se destacaria. Desta colaboração Leni Riefenstahl também muito aproveitou, pois foi os ensinamentos naturalistas de Franck que Leni transpôs para as suas polémicas obras-primas pró-nazis.
 
 Der heilige Berg (The Sacred Mountain), directed by Leni Riefenstahl (1924)

Em "Der Heilige Berg" Leni Riefenstahl interpreta uma bailarina de vanguarda que leva à perdição dois amigos alpinistas, num argumento melodramático e minimalista que está claramente ao serviço da câmara naturalista de Franck. Ou seja, a intenção única passa por mostrar as fantásticas paisagens dos Alpes, os seus picos e as suas arrepiantes tempestades. Note-se que o filme durou cerca de um ano a ser filmado, devido á absoluta recusa de Franck em utilizar cenários e a montagem como artifício cinematográfico.
"The Blackbird/The Bishop", Tod Browning (1926)
 


Extraordinária interpretação de Lon Chaney, que neste filme encarna duas personagens: um delinquente de aspecto normal chamado Mirlo, ladrão demente e maquiavélico que, para burlar a policia, se faz passar pelo seu irmão, apelidado de bispo de Limehouse, defensor dos marginalizados num bairro miserável de Londres.
 
Imagen
 
Um dos melhores filmes da colaboração estreita entre Tod Browning e o "Homem de Mil Caras", Lon Chaney. "The Blackbird" tem um início fulgurante, com uma série de primeiros planos de rostos sofridos e decrépitos de uma Londres do final do séc. XIX, aparecendo e desaparecendo de baixo de uma leve neblina.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Her Tartüff", F.W. Murnau (1925)
 


Adaptação da peça de Molière pelo mago alemão Murnau. A história começa  na casa de um ancião que deserda o seu neto enganado pela empregada, que o faz crer que o jovem está a levar um estilo de vida decadente e desta forma conseguir ser a sua única herdeira; quando o jovem vai a visitar o seu avô é expulso imediatamente, mas este suspeitando do que aconteceu infiltra-se em casa fazendo-se passar por um projector de filmes ambulante e fá-los ver a história de Tartufo.

Por sua vez, a obra de Molière, narra a história de um homem bem colocado na vida, Orgon, que durante uma viagem conhece um misterioso personagem chamado Tartufo, que o confunde por completo com as suas rígidas ideias morais. Quando Orgon volta para casa com o seu novo amigo Tartufo, a sua mulher Elmire alarma-se ao ver como o seu marido mudou por completo deixando-se influenciar por Tartufo: é rude com os criados, frio e pouco receptivo perante a sua carinhosa esposa e até pretende desfazer-se de alguns dos seus bens. Convencida de que Tartufo é um impostor, que só se quere aproveitar do seu marido, propõe-se desmascará-lo com a ajuda da sua fiel criada Dorine.
 
Tartuffe (Her Tartuff)

"Her Tartüff" foi uma encomenda que Murnau se viu obrigado a realizar um pouco contrariado, quando estava a prepar a sua adaptação do mito de Fausto. Contudo, perante o êxito do seu aterior filme, "Der Letzte Mann", o estúdio UFA decidiu voltar a reunir a equipa que havia tornado possível aquela obra-prima: Murnau como realizador, Emil Jannings como protagonista, Carl Mayer como argumentista e Karl Freund como operador de câmara. Mas se em "Der letzte Mann" e no posterior "Fausto" os quatro brilharam intensamente nas suas respectivas posições, em "Her Tartüff" quem sai claramente vencedor é Emil Jannings.
 
Curiosamente, da mesma maneira que Molière teve problemas na sua época com a obra pelo seu conteúdo, Murnau e Mayer também o tiveram em pleno séc. XX pelos mesmos motivos: Tartufo é uma personagem hipócrita e aproveitador que faz gala de um alto sentimento religioso e que baseia os seus conselhos em preceitos cristãos, e esse falso cristianismo molestou tanto na época de Molière como na de Murnau. Deste modo, o filme acabou inevitavelmente por ser censurado em alguns países. Assim, ainda que no final se esteja na presença de uma boa comédia, impecavelmente realizada nos seus aspectos formais, não nos deixamos de perguntar o que seria "Her Tartüff" nas mãos de Ernst Lubitsch, contemporâneo de Murnau e especialista em comédias sofisticadas assim como do tema das falsas aparências.