quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

"Der Schatz", Georg Wilhelm Pabst (1923)


"Der Schatz" trata-se do debute cinematográfico de Pabst, feito através das mãos de um dos pioneiros do cinema alemão, Carl Froelich. Pabst realizou "Der Schatz" ainda no estilo do cinema expressionista, quando este estava no seu auge na Alemanha. Os personagens são movidos por pulsões mesquinhas, tão avaros e cobiçosos que se destroem na busca de um suposto tesouro escondido durante as invasões turcas na Áustria em 1683.
 
O sineiro Svetocar Badalic (Albert Steinrück) vive com a mulher Anna (Ilka Grünig), a filha Beate (Lucie Mannheim) e o ajudante Svetelenz (Werner Krauss) numa velha casa no interior do bosque austríaco. Na calada da noite, secretamente, Svetelenz procura desenterrar o tesouro. Com mais sorte, o jovem ferreiro Arno (Hans Brausewetter) chega à casa, apaixona-se por Beate e encontra o tesouro. Sventelenz, Svetocar e Anna tentam descartar Arno para ficarem com todo o tesouro, ao mesmo tempo em que discutem entre si, roídos pela ambição. Cavam literalmente a própria cova, enquanto o jovem casal salva-se fugindo para um novo lar.
 

Na sua atmosfera e na sua unidade de ação, "Der Schatz" revela um realizador influenciado pelo cinema sueco e pela técnica do "Kammerspiel": apenas cinco personagens desenham o conflito mortal. A casa do sineiro aparece atarracada e estufada, como um monte fofo de argila sem fundações, já prestes a seguir o seu destino. E quando o ajudante do sineiro (Werner Krauss) aventura-se na escuridão para apanhar uma varinha mágica capaz de detectar tesouros, galhos saem dos espinheiros como ossos de esqueleto sob o disco brilhante de uma lua de estúdio. Através de sombras projetadas nas paredes, Pabst mostra-nos como o ajudante arrasta-se no chão a farejar ouro de forma animalesca.

Apesar deste primeiro filme expressionista, Pabst acabaria por celebrizar-se pelo “realismo social” dos filmes que realizou durante a República de Weimar, associados ao movimento estético da Nova Objetividade. Ele é geralmente citado como o único exilado que regressou para trabalhar para o Terceiro Reich. Pensava-se, de facto, que Pabst fosse um socialista engajado em políticas “progressistas”, tendo denunciado os horrores da Primeira Guerra; a solidariedade entre mineiros franceses e alemães; o caos do pós-guerra, aonde a miséria e a inflação conduziam os trabalhadores ao desemprego e as mulheres à prostituição.
 
 

Devido a esses engajamentos, confirmados pela divulgação fílmica da psicanálise de Sigmundo Freud e pela adaptação de uma obra de Bertolt Brecht, pensava-se que Pabst havia optado conscientemente pelo exílio em 1933, quando os nazistas tomaram o poder na Alemanha através da acção combinada do terror nas ruas, da propaganda em massa e da democracia representativa despreparada para sua destruição “por dentro”. Contudo, a preocupação social não era alheia ao nacional-socialismo: a denúncia das mazelas da sociedade não bastaria para alinhar ninguém nas fileiras da resistência, não significando uma automática oposição ao nazismo. Dentro do “realismo social” cabiam tanto os artistas comunistas ou simpáticos ao comunismo quanto os artistas nazis.
 
De origem proletária, filho de um ferroviário, nascido em Raudnitz, em 1885, Pabst sempre foi um espírito inquieto: bem jovem foi para Nova Iorque com o objetivo de tornar-se actor de teatro. Em 1914 voltou, atravessando a França, onde foi surpreendido pela eclosão da Primeira Guerra. Foi internado por quatro anos como “cidadão inimigo” num campo de prisioneiros. Libertado, partiu para Berlim, onde se associou, como argumentista ao veterano cineasta Carl Frölich, que mais tarde aderiria ao nazismo.

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