quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Her Tartüff", F.W. Murnau (1925)
 


Adaptação da peça de Molière pelo mago alemão Murnau. A história começa  na casa de um ancião que deserda o seu neto enganado pela empregada, que o faz crer que o jovem está a levar um estilo de vida decadente e desta forma conseguir ser a sua única herdeira; quando o jovem vai a visitar o seu avô é expulso imediatamente, mas este suspeitando do que aconteceu infiltra-se em casa fazendo-se passar por um projector de filmes ambulante e fá-los ver a história de Tartufo.

Por sua vez, a obra de Molière, narra a história de um homem bem colocado na vida, Orgon, que durante uma viagem conhece um misterioso personagem chamado Tartufo, que o confunde por completo com as suas rígidas ideias morais. Quando Orgon volta para casa com o seu novo amigo Tartufo, a sua mulher Elmire alarma-se ao ver como o seu marido mudou por completo deixando-se influenciar por Tartufo: é rude com os criados, frio e pouco receptivo perante a sua carinhosa esposa e até pretende desfazer-se de alguns dos seus bens. Convencida de que Tartufo é um impostor, que só se quere aproveitar do seu marido, propõe-se desmascará-lo com a ajuda da sua fiel criada Dorine.
 
Tartuffe (Her Tartuff)

"Her Tartüff" foi uma encomenda que Murnau se viu obrigado a realizar um pouco contrariado, quando estava a prepar a sua adaptação do mito de Fausto. Contudo, perante o êxito do seu aterior filme, "Der Letzte Mann", o estúdio UFA decidiu voltar a reunir a equipa que havia tornado possível aquela obra-prima: Murnau como realizador, Emil Jannings como protagonista, Carl Mayer como argumentista e Karl Freund como operador de câmara. Mas se em "Der letzte Mann" e no posterior "Fausto" os quatro brilharam intensamente nas suas respectivas posições, em "Her Tartüff" quem sai claramente vencedor é Emil Jannings.
 
Curiosamente, da mesma maneira que Molière teve problemas na sua época com a obra pelo seu conteúdo, Murnau e Mayer também o tiveram em pleno séc. XX pelos mesmos motivos: Tartufo é uma personagem hipócrita e aproveitador que faz gala de um alto sentimento religioso e que baseia os seus conselhos em preceitos cristãos, e esse falso cristianismo molestou tanto na época de Molière como na de Murnau. Deste modo, o filme acabou inevitavelmente por ser censurado em alguns países. Assim, ainda que no final se esteja na presença de uma boa comédia, impecavelmente realizada nos seus aspectos formais, não nos deixamos de perguntar o que seria "Her Tartüff" nas mãos de Ernst Lubitsch, contemporâneo de Murnau e especialista em comédias sofisticadas assim como do tema das falsas aparências.

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