sábado, 7 de dezembro de 2013

"The Lodger", Alfred Hitchcock (1927)


"The Lodger" passa por ser o primeiro “Hitchcock”. Não foi, de facto, o seu primero filme, mas sim o terceiro, contudo é o primeiro onde, e foi o próprio Hitchcock a dizê-lo, aparecem todos os ingredientes que caracterizaram a obra do génio britânico desde este mesmo ano de 1926 até ao seu último filme em 1976. Para além disso é também o primeiro filme em que faz uma das suas aparições à frente da câmara.
 
Neste período Alfred Hitchcock dedicava-se a dois dos seus passatempos preferidos: aprender os horários dos comboios e desenhar os traçados das linhas e do metro de Londres (não, por isso, de espantar o protagonismo que adquirem os comboios nos seus filmes); e, atraído pelo sentimento de culpa e da ideia do pecado decorrente da sua educação católica, lia avidamente as noticias de crimes que apareciam na imprensa sensacionalista. Lia e memorizava os pormenores dos truculentos casos de assassinato que se davam no pais.
 
 
De entre todas as histórias de crimes que coleccionava nos seus recortes ou na sua memória, uma das mais impressivas, como não podia deixar de ser, foi a história de Jack o estripador, em que se baseia este filme. "The Lodger" conta a história de um assassino de mulheres. Ao mesmo tempo conta também a história de um inocente acusado erradamente dos assasinatos, e por outro lado, no que constitui outra das bases fundamentais do cinema de Hitchcock, narra a história do triângulo amoroso entre o inocente, a filha ruiva da patroa da casa onde está hospedado e o pretendente desta, curiosamente, o policia que dirije a investigação para apanhar o "Vingador", um metódico assassino que apenas mata mulheres ruivas, sempre por estrangulamento, sempre às treças-feiras, e sempre deixando a sua sinistra marca dum triângulo (irónico paralelismo com os três ângulos da história de amor).
 
O filme destila uma estética sombria, obscura, correspondente a uma história de crimes na Londres de princípios do sec. XX, contudo destaca-se por ser um filme de uma riqueza visual extraordinária para as condições (parcas) em que foi rodada, e deixava clara a magnífica predisposição de Hitchcock para a arte do cinema.
 

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