sexta-feira, 10 de dezembro de 2010


"The Birth of a Nation" - crítica por PAULO ALCARVA
Realização: David Wark Griffith
Fotografía: G.W. Bitzer
Montagem: D.W. Griffith, James Smith
Interpretações: Lillian Gish, Mae Marsh, Henry B. Walthall, Miriam Cooper, Mary Alden, Wallace Reid, Walter Long, Joseph Henabery.

Antes de falar da polémica racista que marcará para sempre "The Birth of a Nation", como cinéfilo, importa afirmar que se está na presença de um marco incontornável da construcção da indústria do Cinema. Trata-se do filme mais caro do seu tempo (e um dos mais caros de sempre, se se considerar preços constantes), um verdadeiro sucesso de crítica e de público e a obra mais famosa de Griffith. Mas acima de tudo isso, trata-se de uma obra sminal e inovadora em multiplas áreas e sentidos, com a introdução do "close up" dramático, a montagem paralela e a possibilidade de se rodarem filmes de muito longa duração.

Agora um olhar sobre o polémico conteúdo, mas sem usar o monóculo da sociologia que é uma redutora corrente de análise do Cinema, onde se abordar a arte cinematográfica tendo como ponto de partida a ideia e ideologia que coabitam em cada obra e como ponto de chegada o seu presumível impacto influenciador na sociedade; na minha opinião, tal abordagem é pura e simplesmente fugir à essência do próprio Cinema (e isto aplica-se a qualquer outra arte).

Contudo, não me imiscuío de afirmar que a propaganda ultra-racista, pesadíssima e até embaraçosa, é impossível de aceitar nestes tempos contaminados pelo politicamente correcto. Mas não é suficiente para fazer esquecer que "The Birth of a Nation" trata-se de um passo fundamental no percurso do Cinema, onde o cineasta maldito constrói uma epopeia que cativa pela sua simplicidade. Balanceando momentos suaves e delicados das histórias de amor, com momentos arrepiantes de brutalidade, Griffith sublinha o pior e o melhor do ser humano. A primeira meia hora é extraodinária, com uma nostalgia quase material a pairar sobre o Sul pré-Guerra Civil, território campestre de fortes ligações familiares, valor essencial na vida de Griffith (também ele um Sulista).

Com "Intolerance" e "The Birth of a Nation" Griffith, se não inventou a linguagem cinematográfica, seguramente que sistematizou essa gramática. E mais, fez do cinema narrativo o cinema hegemónico.

"The Birth of a Nation" inaugura também toda uma iconografia sobre a América, que será retomada, re-explorada, homenageada ou contestada por cineastas como John Ford e Martin Scorsese.

A melhor definição de Griffith foi dada por Spike Lee: Griffith era um racista filho da puta, mas, como cineasta, foi um génio.

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