"Salome" (1923), Charles Bryant
Todos conhecemos a história bíblica de Salomé, enteada de Herodes,
filha de Herodias que (para a consternação do padrasto e deleite da mãe)
pediu numa bandeja de prata a cabeça de João Batista
como recompensa por ter dançado a “Dança dos sete véus” para
Herodes. A partir desta milenar história Oscar Wilde escreveu a sua versão teatral em 1891, publicada em 1893 com ilustrações do magnífico Aubrey Beardsley.
E seriam as
ilustrações Beardsley que viriam a inspirar Alla Nazimova neste seu filme
de 1923. A realizadora/actriz russa-americana de “vanguarda” interpretou o
papel feminino principal de "Salomé" num delírio de "Art-Deco", Ballet
Russo, Beardsley e vanguarda. E seria a sua última aventura "hollywoodiana" depois
de "Camille" com Valentino. Dois fracassos consecutivos foram o suficiente
para acabar com Alla, que só voltaria nos anos 40 como a mãe de Tyrone Power em
"Sangue e Areia".Baseado fielmente no texto de Wilde, o filme foi
uma espécie de homenagem a Oscar Wilde: todo o elenco era homosexual, o
que transformou o filme
num acontecimento-escandalo.
Mais habituada ao palco do que em frente a uma câmera, Nazimova gesticula e usa toda a expressão corporal e facial aprendida no teatro para desenhar a personalidade maliciosa de Salomé. Charles Bryant, embora fosse um credenciado realizador, teve pouca influência no filme, comandado praticamente por Nazimova e Natacha Rambova (responsável pelos figurinos e cenários). Outro facto curioso é ver Nazimova aos 44 anos interpretar uma Salomé de 16 anos. Em menos de trinta minutos Alla Nazimova encena uma Salomé cheia de luxúria, egoísta e impiedosa nas suas vontades. Cega pela força irreal de seus caprichos, padece na concretização dos mesmos. Os grandes planos do rosto da jovem Salomé, mostram uma aura translúcida da atriz que interpreta numa imersão própria da sua técnica. "Salome" é, definitivamente, um filme de imagens.
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