sábado, 9 de fevereiro de 2013

"Der Letzte Mann" (a.k.a. The Last Laugh), F. W. Murnau (1924)
 

"Der Letzte Mann" é um dos filmes mais influentes da História do Cinema e outro superlativo título de F.W. Murnau, que tem como protagonista um aprumado porteiro de  hotel (Emil Jannings, magnífico) que perde todo o seu orgulho quando é relegado para encarregado dos lavabos. O seu sistema de valores - fundamentado, nem mais nem menos, que na honorabilidade que lhe proporcionava a sua vestimenta - vem completamente abaixo. O prestigio de que goza no barrio operário onde habita cai por completo. A possibilidade de um casamento vantajoso para a sua filha também se desvanece. Mesmo a própria família do porteiro, quando sabem do seu novo status, literalmente recuam dele em horror, como se estivessem a ver um monstro. Ou seja, todo o seu mundo de aparências cai por terra.


O seu mundo está literalmente fora de órbita: ao sair do trabalho depois da despromoção, o porteiro sente-se como se o próprio hotel fosse esmagá-lo, numa sequência com efeitos extraordinários, onde o edifício parece entortar-se na sua direcção. Mais tarde, bêbado num casamento, o porteiro cambaleia, e os balanços da câmera seguem-no, traçando arcos nervosos do ponto de vista do velho, como se o seu olhar de bêbado saltasse em redor da sala. Esta perspectiva subjectiva alinha o público com a tentativa do velho porteiro para apagar os seus sentimentos de fracasso e abjeção, na folia. Então, imbuído de uma lógica inquestionável, decide que a única solução para manter o seu status, passa por roubar do establecimento o espampanante uniforme, com o qual poderá fazer uma última "actuação".  "Der Letzte Mann" é, assim, e sobretudo, um filme psicológico, posto que boa parte da acção passa-se apenas na cabeçade nosso herói decadente. 

Murnau experimentou ao máximo, em "Der Letzte Mann", as possibilidades técnicas da câmara (Karl Freund era o operador), com o fim de reduzir os intertítulos à sua mínima expressão, e fê-lo inovando com a a cãmara a subir por elevadores, recorrendo a "travelings" que permitissem seguir permanentemente o protagonista. Ou seja, "Der Letzte Mann" foi, assim, um marco fundamental na História do Cinema, um feito impressionante, em várias técnicas quesinalizaram saltos significativos no ainda jovem cinema: não só era uma obra de arte visual pura, sem intertítulos de diálogos, mas com Murnau a inventar o uso da câmarasubjectiva, ao libertar a câmara estática.

É por isso claro que grande parte dos sentimentos que emanam deste magnífico filme são consequência directa da magistral técnica que apresentam, desde os primeiros planos, os movimentos de câmara, os picados e os contrapicados.
 
 
Outro aspecto da obra que impressiona é o cuidado na construção dos "sets". Da trivialidade do conjunto habitacional à intensa movimentação nos arredores do hotel, tudo é representado com cuidado: iluminação, objetos, infra-estrutura, veículos, etc. A curiosidade fica por conta dos letreiros escritos em Esperanto.
 
Acresce (e muito) o desempenho de Jannings que é notável, transmitindo toda a emoção deste complexo e angustiante drama social, através da sua linguagem corporal e dos seus olhos expressivos, sobre a única parte do rosto que é visível por trás do cabelo ornamentado.
 
Em resumo, "Der Letzte Mann" é um filme obrigatório e digno de estudos sobre o cinema mudo, com um poder que não diminuiu em mais de 85 anos. O cruzamento entre o director de fotografia, Karl Freund, com o argumentista Carl Mayer e o mestre F.W. Murnau originam um filme notável. Murnau estava no auge da sua força criativa.


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