sábado, 9 de fevereiro de 2013

"He Who Gets Slapped", Victor Sjöström (1924)

 
Paul Beaumont (Lon Chaney) é um cientista e humanista que, depois de muitos anos de pesquisa, descobre uma revolucionária teoria, contudo o seu protector, o barão Regnard (Marc McDermott), rouba-a e, para além disso, seduz a sua mulher (Ruth King). A ofensa é selada com uma bofetada. Beaumont foge envergonhado refugia-se num circo, onde fica famoso como o palhaço "que recebe as bofetadas" dos demais palhaços. no entanto, os caprichos do destino fazem com que numa noite se encontre entre o público o seu pérfido benfeitor, que se mostra interessado pela bela Consuelo (Norma Shearer), a qual já está enamorada por Bezano (John Gilbert), colega de Beaumont. Pese embora estes sentimentos, o pai de Consuelo tem previsto casar a sua filha por interesse, precisamente com a pessoa que destroçou Paul. Consciente disso, o palhaço que recebe as bofetadas encena uma terrível vingança, que ao mesmo tempo significará a sua oferenda de amor não correspondido a Consuelo e também a última e simbólica bofetada que recebe na sua vida.
 
Uma vez mais a aparente simplicidade do cinema mudo, permite-nos tirar uma lição moral sobre a relação causa-efeito de tudo o que fazemos nas nossas vidas, e também (e de soslaio) uma visão dolorosamente satírica da crueldade das massas.
 
 
Não foram poucos os sucessos de Victor Sjöström em Hollywood, mas foi provavelmente esta segunda incursão do cineasta sueco no cinema norte-americano (e a primeira da produtora MGM) a mais reconhecida pelo público. Para isso muito contribuiu o suporte de uma conhecida obra teatral e também a presença de Lon Chaney como personagem principal. Contudo, seria um enorme erro justificar "He Who Gets Slapped" como “um filme” de Chaney - há outros na sua vasta filmografia que retêm melhor os seus predicados interpretativos, como por exemplo o de Quasimodo em "The Hunchback of Notre Dame" (1923, Wallace Worsley). Desde o primeiro momento, Victor Sjöström dá boa conta da sua modernidade cinematográfica, da sua sobriedade narrativa, de uma estupenda direcção de actores e um surpreendente uso da profundidade de campo, que tem o seu mais claro expoente nas suas sequências circenses. O realizador nórdico utiliza com mestria a sobreimpressão, maneja a parábola com claridade mas, sobretudo, mostra-se irresistivelmente dramático através da força da imagem. E esta vertente está cheia de exemplos sensíveis e inolvidáveis, como é o caso  da declaração amorosa de Paul a uma atribulada Consuelo.
 

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