"Lady Windermere's Fan", Ernst Lubitsch (1925)
Adaptação da peça teatral homónima de Oscar Wilde, com uma utilização muito espartana de intertítulos, os quais foram escolhidos pelo próprio Wilde, Lubitsch consegue a acidez crítica e a diversão do original através do seu refinado emprego da elipse narrativa e a sólida construção dos personagens.
A história é a da difamada Mrs. Erlynne, julgada morta há muito tempo pela filha, Lady Windermere, que volta a Londres e pede ao genro, Lord Windermere dinheiro para manter o segredo. Ela introduz-se no ambiente em que vivem os Windermere, com o objectivo de recuperar a respeitabilidade por via de um casamento com o rico Lord Augustus e, sacrificando a sua reputação e o seu futuro, acaba por salvar a filha da desonra, fazendo-se passar por amante do seu admirador, Lord Darlington.
Mas levar para o cinema mudo uma obra do mestre da estética é complicado, na medida em que nos vemos privados dos diálogos em que participam Graham e Dumby, por exemplo, que são a cara e a coroa do estilo cínico e frívolo do dramaturgo britânico. Mas apesar das diferenças evidentes entre os dois formatos (cinema e literatura), penso que existem no filme de Lubitsch momentos em que a imagem reconhece a essência da palavra com a mesma intenção e resultado incisivo e irónico.
O filme incorpora alguma variedade espacial de cenários inexistentes na obra original (o hipódromo, por exemplo) para dar vivacidade cinematográfica à configuração do argumento, e simplifica o cerne literário da dramaturgia wilderiana dialogada. Aliás, uma das cenas mais expressivas do toque lubitscheano é precisamente passada no hipódromo, onde a linda Mrs. Erlynne, focalizada pelos binóculos sob diferentes pontos de vista, parece estar encerrada numa rede de olhares, “massacrada” pela sociedade elitista.
"Lady Windermere's Fan" é, assim, um interessante exercício cinematográfico que vem comprovar a realização expressiva de Lubistch, de quem sabemos mais tarde serem estes "estudos" que vincaram o seu famoso tom próprio.