sábado, 6 de abril de 2013

"The Pleasure Garden", Alfred Hitchcock (1925)


"The Pleasure Garden" trata-se do primeiro trabalho de Hitchcock como realizador, numa aposta do produtor Michael Balcon, depois da tentativa frustrada de "Number 13" (1922), que não pode chegar a acabar por falta de apoio financeiro.
 
Apesar de se tratar de uma primeira obra, "The Pleasure Garden" não era um filme de série B, mas sim um projecto elaborado pensado em atrair o mercado estrangeiro. Por isso a rodagem realizou-se no seio da indústria alemã, incluindo alguns exteriores em Itália, e Balcon conseguiu atrair ao projecto a actriz norte-americana Virginia Valli que,ainda que hoje em dia o seu nome não nos chame à atenção, a verdade é que em 1925 era uma importantíssima estrela. tudo isto evidencia a confiança que tinha o produtor em Hitchcock e a reputação que o futuro realizador havia conseguido em pequenos trabalhos até escalar à posição de realizador.
 
Apesar disso, a sua primeira obra trata-se, sem dúvida de um filme menor e algo aborrecida, em grande parte devido à pobreza do argumento. De facto, a única nota de interesse é o trabalho de Hitchcock atrás da câmara (uma constante ao longo da sua primeira etapa britânica, em que o realizador em mais do que uma ocasião teve que confrontar-se com histórias medíocres).
 
 
 
O início de "The Pleasure Garden" até é bastante prometedor e mais de que um crítico pretendeu ver nele o reflexo de alguns dos seus futuros temas. O filme arranca com as bailarinas a descer uma escada de caracol para se dirigirem ao palco. Quando começa o seu número, vemos os rostos dos homens das primeiras filas, que as contemplam com desejo. A câmara centra-se, então, num deles e vemos em plano subjectivo o palco desfocado, até que o homem coloca uma luneta num dos olhos e pode ver com detalhe as pernas das raparigas. Ou seja, não deixa de ser muito curioso analisar como os primeiros minutos do primeiro filme de Hitchcock já contém o tema do voyeurismo assim como um pequeno truque técnico, o plano subjectivo desfocado, que sem dúvida são uma marca d'água do realizador britânico. Infelizmente a diversão termina e pronto, esse início memorável com esse ritmo tão ágil e esses planos tão interessantes são dos poucos momentos destacáveis de todo o filme.
 
É muito interessante o relato que Hitchcock faz no livro de conversas com Truffaut, acerca da acidentada rodagem nos exteriores do que o filme em si mesmo. Apesar disso, Michael Balcon ficou muito satisfeito com o resultado final, sobretudo porque tinha uma aparência muito professional dos filmes norte-americanos. Tratou-se, pois, de um debute correcto, que já apontava para algumas das virtudes do Hitchcock futuro, mas onde, todavia, estava ainda ausente a essência da sua mestria.

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