segunda-feira, 1 de abril de 2013

"Bronenosets Potyomkin" (a.k.a. Battleship Potemkin), Sergei M. Einsestein (1925)
 

A revolução que culminou com a criação da União Soviética é considerada como a maior experiência social da história moderna. Em poucos anos, as anquilosadas estruturas políticas do czarismo desintegraram-se para dar lugar a um sistema sem classes sociais, produto das ideias modernistas geradas na segunda metade do séc. XIX, e que a história nos mostrou ser um projecto completa e amargamente falhado.
 
O nascimento do primeiro governo comunista da história coincidiu com uma revolução igualmente importante no mundo das artes. De facto, os primeiros anos do séc. XX foram marcados pela aparição de uma série de movimentos vanguardistas, que tentavam acabar com os rígidos esquemas imperantes. Resultado disso mesmo foi o aparecimento de novas formas de expressão estética como o cinema; as belas artes ampliavam o seu campo para incluir as nascentes tecnologias da imagem.
 
 
"Bronenosets Potyomkin" constitui a síntese daquelas duas grandes revoluções do séc. XX. Desde o ponto de vista doutrinário, o filme do mestre russo pode ver-se como um grandioso livro de texto em movimento, concebido para ajudar a gerar uma consciência histórica comum no espectador.

Muito já se escreveu e disse sobre a importância do filme de Eisenstein para a consolidação da arte cinematográfica. "Bronenosets Potyomkin" constitui uma fusão integral, de forma e conteúdo, de que a imagem possui um valor cumulativo e gera significados múltiplos na mente do espectador. Esta capacidade do meio cinematográfico para estimular intelectualmente o público havia sido explorada com moderação até a chegada Eisenstein; a partir de "Bronenosets Potyomkin" o Cinema alcançou um grau superior nas suas capacidades expressivas e estabeleceu-se firmemente como a sétima das artes.

 
A história do "Bronenosets Potyomkin" começa com as condições insuportáveis a que estão sujeitos os marinheiros, sendo a gota que transborda o copo a decisão dos oficiais darem-lhes carne podre para estes comerem. Começa assim a revolução, que mais tarde se estenderá a todo o porto de Odessa e por toda a Rússia. O filme baseia-se em factos reais, que aconteceram no porto de Odessa durante a semana de 26 de Junho de 1905.
 
Esta história é narrada com soberba mestria pelo pai do cinema russo e um dos grandes mestres do cinema mundial, Einsestein. Pese embora se tratar, indubitavelmente, de um trabalho “propagandístico”, não deixa de ser uma aula seminal e magistral sobre a arte da montagem, o movimento da câmara e a narração, com cenas míticas como a da escadaria de Odessa e do drama do carrinho de bebé que cai por ela abaixo, que seria depois citada/copiada como esquema para resolver sequências de acção por uma infinitude de realizadores, sendo copiada quase plano a plano por Brian De Palma em "The Untouchables" (1987).


Tecnicamente trata-se de uma obra de vanguarda, que foi muito além do que se fazia naqueles tempos, transformando-se num filme fundamental na história do cinema e fazendo de Einsestein um dos revolucionários de 1917. "Bronenosets Potyomkin" é uma síntese perfeita da linguagem cinematográfica, consciência política e sublimação artística.

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