quinta-feira, 4 de abril de 2013

"Die Freudlose Gasse" (a.k.a. The Joyless Street),
Georg Wilhelm Pabst (1925)
 

"Die Freudlose Gasse" é uma obra realista notável e de grande repercussão. Está ambientado na Viena do pós I Guerra Mundial, em plena crise económica e social, caracterizada pelo desemprego, as filas para os bens essenciais e a proliferação dos antros de prostituição, e é descrita com emoção e com uma certa inclinação para efeitos melodramáticos, que são a imagem de marca de Pabst, como serão de R.W. Fassbinder no “Novo Cinema Alemão”.
 
Toda a acção gira à volta da miserável situação em que vivia a sociedade austro-alemã e, particular, a decadência económica e moral da burguesia, mais do que do povo. Os protagonistas são homens e mulheres que foram endinheirados e que fazem o que seja para salvar a sua situação, numa Viena assolada pela crise inflacionária e o desemprego. É neste contexto que vemos duas actrizes extravagantes da era muda, nada menos do que Asta Nielsen e Greta Garbo, desempenharem papéis de mulheres de famílias respeitáveis que têm de se prostituir para manter a economia familiar; junto delas, Elsa, que pertence a uma família humilde, e que ao juntar-se ao grupo rompe com qualquer muro social que pudera existir. Pabst é claro na sua mensagem: em 1925, as diferenças sociais na Europa Central reduziram-se, sendo que tal foi alcançado nivelando-se por baixo.

Pabst com "Die Freudlose Gasse" cumpre também uma sua meta: impor a denominada corrente “Nova Objetividade” à corrente Expressionista, ainda que a "velha" tendência ainda esteja presente nas ruas estreitas, nos candeeiros dobrados, nas portas e janelas angulares, assim como a sensação de claustrofobia nas casas, tudo isto são claras reminiscências do Expressionismo. Mas se os cenários estão marcados pela estética Expressionista, é nas personagens e em tudo o que fazem onde se encontram as diferenças.
 
A personagem de Maria, interpretada pela genial Asta Nielsen (uma actuação insuperável), é a mais realista de todas, ao sucumbir, precisamente por necessidade, a tentação de cometer um homicídio quando constata que tudo está perdido. Talvez a única personagem que não enquadra no realismo é o carniceiro (com o seu enorme cão), interpretado por Werner Krauss, o Dr. Caligari; as suas características quase monstruosas formam parte de uma estética Expressionista e é totalmente irreal, contudo esses traços exagerados resumiam os medos de toda a população. Apesar da tonalidade fortemente pessimista/realista do filme, na parte final Pabst deixa-se levar pelo melodrama e dá-lhe um final feliz.
 
"Die Freudlose Gasse" não se trata de uma super produção, mas sim de uma chave que abriu a porta a novos movimentos artísticos na Alemanha da República de Weimar. Ainda assim, permitiu também o grande salto de Garbo rumo a Hollywood. O mesmo aconteceu com Pabst, ainda que não tenha necessitado de ir para a Califórnia, pois o ténue aceleramento da economia alemã permitiu-lhe financiar realizações de trascendência na sua terra Natal, como Geheimnisse einer Seele (Secrets of a Soul) de 1926 e o mais  célebre Die Büchse der Pandora (Pandora's Box) de 1929.



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