domingo, 23 de outubro de 2011

"Häxan" (The Witches / Witchcraft Through The Ages), Benjamin Christensen (1922)


"Häxan" é um estudo sob a forma de documentário das práticas de bruxaria ao longo do tempo, desde o momento zero da História, caminhando pelas várias épocas onde o fanatismo proveniente das crenças se sobrepõe à Razão.

O filme está dividido em sete partes, onde a primeira, que funciona de introdução, evidencia a imparcialidade de Benjamin Christensen relativamente ao que será analisado ao longo do filme. Os primeiros minutos estabelecem uma ligação entre o modo de pensar de um povo, passando pelos persas e pelos egípcios, com os seus principais conflitos que, no caso, se resumem à organização do universo e ao desconhecido. Justamente pelo facto do Homem não ter a certeza das causas que motivaram certos acontecimentos, principalmente as enfermidades, ele cria as suas próprias respostas. Eis que surgem os demónios, os espíritos malignos, e as demais alegorias negativas.

Com uma grandiosa riqueza de detalhes, o realizador sueco transporta-nos até à Idade Média, onde a Inquisição foi responsável pela morte de mais de oito mil pessoas. Com esse pano de fundo, Christensen começa a explorar o universo do misticismo, ilustrando com diversos desenhos, a perspectiva religiosa a respeito dos males. A viagem começa no berço de todos os pecados: o Inferno. Tanto nos desenhos, quanto nas representações teatrais, que abrem espaço para a distorção dos personagens, típica do expressionismo alemão, mostram-nos um universo paralelo onde a discórdia reina ao lado do pecado.

Outras formas de vida que também eram condenadas pela Igreja, e sob a qual se reflecte na principal questão do filme, são as bruxas. Quase sempre, eram retratadas como velhas, feias e mal cuidadas, mas que, segundo os religiosos, mantinham um pacto com o Diabo. Os próprios juízes da Inquisição tinham grande preocupação, quando lidavam com essas mulheres, porque corriam boatos de que elas dominavam a magia e as poções, entre outras diversas formas de tortura. Todo esse medo não passava de meras superstições, segundo o narrador. A narração na primeira pessoa faz questão de ressalvar o facto que o receio era tão grande, que as pessoas acabavam desenvolvendo as tais maldições, mas que não passavam de distúrbios psicológicos.

Enquanto os membros da Inquisição torturavam as pessoas que eram denunciadas, para as mesmas confessarem os seus actos, Christensen cria um dos melhores momentos do documentário, onde mostra alguns dos instrumentos de tortura utilizados pelo tribunal eclesiástico. Enquanto a torturada delira, o realizador vai-nos mostrando as representações dos encontros das bruxas, onde dançavam, profanavam, e adoravam o Demónio.

A direção de arte, juntamente com a fotografia, demonstra um trabalho extremamente eficiente na reconstrução desse pandemónio. Todo esse trabalho foi possível graças ao alto orçamento da produção, que proporcionou a Christensen, uma das recriações mais fantásticas de todos os tempos.

Na última parte do filme, o narrador encerra toda a sua defesa fazendo uma comparação entre épocas diferentes, e, por conseguinte, modos de pensar desiguais, a partir de cenas que foram mostradas durante o documentário, e até mesmo depoimentos de integrantes do elenco, numa espécie de aula, onde o espectador fica sentado, apreciando o aluno concluir a sua tese.

"Haxan" foi um sucesso no seu tempo, o que proporcionou a Christensen uma experiência em Hollywood na MGM, onde realizou uma adaptação do romamnce de Abraham Merritt "Seven Footprints to Satan" (1929).

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